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Fórum de Educação de Itatiba aborda a Cultura de Paz nas Escolas para ser desenvolvida no meio educacional

Professores e especialistas lotaram o Teatro Ralino Zamboto para acompanhar os debates e palestras

O 3º Fórum Municipal de Educação de Itatiba mobilizou professores e especialistas no Teatro Ralino Zamboto de segunda a quinta-feira desta semana. O tema desta edição foi “Cultura de Paz nas Escolas”. A secretária de Educação Sueli Tuon, falou sobre o evento. “A importância desta iniciativa é de formar professores todo dia, em todo tempo. Esse tema que trouxemos para o fórum deste ano, educação para uma Cultura de Paz vem ao encontro de vários momentos que passamos este ano dentro das nossas escolas em várias situações para que nossos alunos compreendam o que há de necessário para que a gente possa conviver com o outro”. A lotação do auditório do teatro revelou o interesse e o entusiasmo dos professores pelo Fórum.

Foto: Renato Jr/PMI

Também presente na abertura do evento, o prefeito Thomás Capeletto de Oliveira (PSDB) fez questão de lembrar o terceiro lugar conquistado pela cidade de Itatiba no Ranking de Competitividade dos Municípios 2023, elaborado pelo Centro de Liderança Pública (CLP), a Gove, organização voltada à modernização do setor público e a Seall, que atua no ramo de desenvolvimento sustentável. Segundo ele, é preciso um trabalho contínuo para evitar que o nível de violência, antes impensável como se viu em vários casos pelo país, inclusive com mortes, contamine todo o ambiente escolar e um dos caminhos é preparar os professores, que viraram pai, mãe, família dos alunos num cenário que sofreu fortes modificações com a pandemia de covid.

Foto: Cid Barboza

Educar para a paz

O Itatiba Hoje acompanhou o primeiro dia do Fórum, destinado a professores de creche. A palestra “Educar para empatia e promoção da paz” foi ministrada pela professora-doutora Luciana Maria Caetano, coordenadora de Pós-Graduação em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano e livre-docente do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (IPUSP), autora do livro “Para Além das Regras e Limites: um guia para pais e educadores”. Durante a palestra, ela ressaltou a importância da empatia, esta capacidade de saber se colocar no lugar do outro e que melhora sobremaneira as relações interpessoais. Na escola reduz as manifestações de problemas comportamentais. “Uma pessoa empática se torna mais cuidadosa, justa, solidária e generosa no trato com as pessoas”, afirma, e quando isso é trabalhado com os alunos combate o bullying, a violência, promove a autoregulação dos comportamentos de forma positiva.

Foto: Renato Jr/PMI

Estudos norte-americanos, europeus, e mais recentemente no Brasil apontam que existe uma predisposição biológica à empatia no ser humano. “O gene da empatia está sendo estudado. Bebês de até dois anos observam o ambiente que os rodeia. Em condições favoráveis, tendem a se tornar mais empáticos ao longo da vida. A escola dá para as crianças a oportunidade de viver junto”. Este é o olhar que a professora Luciana considera crítico para os professores desenvolverem em si mesmos de modo a distribuir para as crianças desde muito cedo, desde o primeiro contato delas com um mundo que se abre para além da configuração familiar.

Foto: Cid Barboza

A escola como referência

A Cultura de Paz nas Escolas como política educacional é uma meta colocada como prioridade pela Secretaria Municipal de Educação de Itatiba porque tem um potencial imenso de impacto na vida dos professores, alunos e seus familiares e dos funcionários do sistema em todos os níveis.

Respeito mútuo, combate ao preconceito, diversidade e direitos humanos compõem a lista de assuntos que os professores podem introduzir no universo das crianças sempre observando a capacidade de entendimento e a linguagem adequada. Músicas e brincadeiras cabem no esforço de prepará-las para o convívio social que trará no futuro desafios de trabalho, amor, amizade. “Ninguém precisa ser rude, gritar para corrigir alguém”, afirmou a palestrante encarando a plateia de educadores. “Sem felicidade a criança não aprende. É preciso trabalhar a dimensão humana da criança, legitimar os sentimentos dela mostrando que a entende e está ali para confortá-la e ajudar na caminhada”, orienta a professora-doutora. “O professor que se comporta como apoiador emocional percebe e valoriza as próprias emoções, é sensível e respeitoso aos estados emocionais das crianças e quando elas apresentam emoções negativas esse educador vê uma oportunidade de aproximação”.

Foto: Cid Barboza

Política recente

Apesar da relevância do tema, só em 2020 a empatia passou a ser encarada como item precioso na política educacional aqui no Brasil, uma das dez competências mais importantes a serem desenvolvidas na Educação Básica. É claro que iniciativas informais eram praticadas, mas faltava a questão institucional ora em desenvolvimento. A secretária Sueli Tuon vê na escolha do tema para o 3º Fórum Municipal de Educação 2023 uma chance para os professores da rede que já têm essa visão aprimorarem os conhecimentos e aos que não tiveram a oportunidade de trabalhar o tema que possam fazer agora nas escolas, entre os adultos e dos adultos para as crianças.

Questionada se hoje a empatia é um tema mundial, a palestrante disse que sim e é investigado por vários ramos da psicologia, pela educação, pela sociologia, genética e outras linhas científicas. Na medida em que os conhecimentos avançam e se tornam de domínio público a sociedade tem ganhos. “Muitas famílias tinham uma criança ‘diferente’ tratada de forma inadequada. Hoje temos indicadores precoces para identificar os problemas e intervir. Os estudos nas diversas áreas da psicologia ajudam as pessoas a serem mais empáticas com aqueles com problemas de transtorno de desenvolvimento.

A valorização do papel do professor foi objeto de consideração da professora Luciana, para quem ao longo dos anos os professores sofreram perdas de valorização social e especialmente depois de uma pandemia se está confirmando o quanto os professores fizeram falta na vida das crianças e suas famílias, assim é preciso investir mais na categoria. “A família não é especializada em educação e precisa encontrar na escola a parceria para também buscar essa formação. Normalmente a família brasileira educa por ensaio e erro ou tentando não cometer os mesmos erros vividos no passado, Hoje a gente tem escolas de pais, cursos de formação da família. É importante quando a família também consegue ser formada ou, no mínimo, informada sobre características do desenvolvimento dos seus filhos. Esse também é um papel nosso, de professores e da escola de construirmos essa ponte para ajudar a família a ser melhor. Culpabilizar a família não resolve nada”, finalizou.

Foto: Cid Barboza

Aperfeiçoamento

O Fórum marca também a conclusão do curso de aperfeiçoamento dos profissionais da Rede Municipal de Ensino, em convênio com a PUC-Campinas, iniciado em 2022. “Quero agradecer a PUC por esta formação neste ano tão importante aos nossos professores. Devemos estudar também, quando somos educadores e buscar a construção deste conhecimento para que cada vez mais a gente possa fazer por nossas crianças e adolescentes”, incentivou a secretária Sueli à plateia.

“Formar professores é formar a sociedade do futuro”, declarou o reitor da PUC Campinas Germano Rigacci Jr., acompanhado de Rogério Bazi, pró-reitor de Educação Continuada; e da professora Graça Abreu, uma das coordenadoras do curso de aperfeiçoamento.

Programação:

Na terça-feira (17), a palestra foi direcionada aos professores da pré-escola. “A escola dos sonhos: desejos e projetos de vida dos educadores brasileiros” foi o tema abordado pelo professor-doutor Ulisses Ferreira de Araújo, prof. titular sênior da USP e presidente da PANPBL – Association of Problem-Based Learning and Active Learning Methodologies.

Na quarta-feira (18), o tema abordado foi “A convivência na escola: uma conversa sobre os tempos difíceis em que educamos nossas crianças”, destinada a professores do PEB I, do 1º ao 5º ano do Ensino Fundamental. A palestrante foi Luciane Regina Paulino Tognetta, do Departamento de Psicologia da Educação da Faculdade de Ciências e Letras da Unesp.

Na quinta-feira (19), Isabel Cristina Hierro Parolin, mestre em Psicologia da Educação pela PUC-SP e conselheira nata da Associação Brasileira de Psicopedagogia-Seção Paraná realizou a palestra de encerramento para professores do PEB II, do 6º ao 9º ano do Ensino Fundamental. O tema: O desafio de formar pessoas na sociedade do imediatismo.

O 3º Fórum Municipal de Educação 2023 “A Cultura de Paz nas Escolas” teve apoio da Escola de Governo e Gestão Pública (EGGP) e da Câmara Municipal de Itaíba.

Continuada além dos muros e portões das escolas a Cultura de Paz, a partir das gerações que estão sendo formadas, transformará os bairros, as cidades, o país e o mundo. Isso é revolução. Isso é evolução.

Por Cid Barboza – Fotos: Cid Barboza e Renato Jr/PMI