“Amor além do amor”:
a história de Larissa e Noah
“Eu descobri que o amor vai muito além do amor. É um negócio de doido. É um amor fora de série, diferente de tudo o que eu conhecia”. Não há melhor frase para começarmos a contar essa história.
Larissa Pereira sempre quis ser mãe, era o seu maior sonho. “Eu sempre quis ser mãe. A minha meta sempre foi ser mãe jovem. Meus pais eram jovens quando nasci, e eu cresci tendo uma amizade muito bacana com eles. Eu sempre quis ter essa relação com o meu filho também. Queria ser mãe nova para poder passear com meu filho, viajar, curtir e ser amiga”.
Com a notícia de que Noah estava a caminho, a vida de Larissa se iluminou, afinal, tudo o que mais desejava estava acontecendo. E, para sua surpresa, mesmo na barriga, Noah já sabia que os dois seriam companheiros para toda a vida. “Era uma delícia curtir o barrigão, vê-lo crescendo. Poder assistir televisão e saber que ele estava ali comigo, maratonar séries com ele mexendo na barriga. Toda a família estava encantada e esperando ansiosa pela chegada do Noah”.
Contudo, após dois anos de parceria, a história de Larissa e Noah estava prestes a ganhar novos rumos. “O diagnóstico de autismo veio quando meu filho tinha um pouco mais de dois anos. A primeira pessoa a perceber alguns pontos diferentes no Noah foi o meu pai. Mas ele não sabia como falar isso para mim, já que a maternidade era o meu sonho de vida. Então, como ele ia chegar e falar ‘filha, o seu sonho não vai ser tão perfeito quanto você imaginava’. Aos poucos fomos percebendo as diferenças, mesmo com dificuldade de aceitar. O Noah já não fazia mais contato visual, não vinha quando chamado, as estereotipias aumentaram, como girar e andar nas pontas dos pés, e aí ficou evidente. Fomos em busca de profissionais para nos orientar. Passamos com psicólogo, fomos encaminhados para o neurologista e fonoaudiólogo, e estes nos indicaram procurar a APAE, e foi quando o diagnóstico veio”, contou Larissa ao Itatiba Hoje.
“Nosso mundo desmoronou. Foi um choque muito grande. A gente conversa muito nos grupos de mães de autistas que, na verdade, o que parece que acontece com a gente é que sofremos um luto. Morre a ideia da criança perfeita, da criança típica, e nasce uma criança com as suas deficiências e dificuldades atípicas. […] O sonho da maternidade perfeita caiu por terra. Para mim foi um processo muito doloroso. Levou tempo, não para eu aceitar, eu aceitei e fui atrás de tudo o que o Noah precisava, mas para eu entender o que nós dois estávamos passando com essa nova realidade”.
Assim foi o início de um novo capítulo dessa história de amor e compreensão. Larissa nos contou que toda a rotina mudou, assim como sonhos e expectativas, até o amor mudou. Mas não se engane, ele cresceu de uma forma que ela nunca imaginou.
“A minha maior alegria é perceber que a nossa família consegue se superar. Descobrimos uma força que não imaginávamos ter, a gente se descobriu uma verdadeira equipe. Minha alegria é vê-lo evoluindo e ter o amor dele, é chegar no final do dia e escutar um ‘te am’ que é o te amo dele, é ter aquele abraço gostoso. Ele me ensinou um amor que vai muito além”.
Uma mensagem de esperança
“Se eu pudesse enviar uma mensagem para as mães que estão descobrindo agora a maternidade atípica é: Calma. Parece clichê quando alguém fala ‘calma, isso vai passar’, dá até raiva escutar isso dos outros, mas é verdade. É viver um dia de cada vez. Quando eu descobri o diagnóstico do Noah, eu desenvolvi um quadro de ansiedade muito grande. Eu queria saber quando tudo ia melhorar, eu queria viver o amanhã. Mas aos poucos descobri que tenho que viver o hoje, o agora. Eu aprendi a ter calma e fé. Entendi que as coisas vão melhorar e do jeito que tem que ser, vai dar certo. Muitas vezes não da forma como imaginamos, mas dará certo da forma como tem que ser”.
Por Lívia Martins/Itatiba Hoje – Foto: Arquivo Pessoal