Historiador atualiza informações sobre a fundação de Itatiba
Ainda na comemoração do aniversário de Itatiba, em contato com o doutor em História Social do Brasil, historiador e secretário Municipal de Cultura, Luís Soares de Camargo, explica algumas modificações que surgiram sobre a fundação da cidade, após pesquisas.
Nessa conversa Luís Soares esclarece alguns pontos e modifica algumas teorias, anteriormente difundidas, que a partir de mais pesquisas, foram atualizadas.
Acompanhe:
O que mudou no contexto da história da emancipação de Itatiba?
Na verdade a divergência não é em relação à emancipação política e sim na questão da “fundação” da cidade. Vou explicar: A primeira versão sobre a fundação da cidade é de autoria de um grande fazendeiro e intelectual de Itatiba chamado Eugênio Joly. Preocupado com o registro da nossa história, ele publicou o artigo “Notícia Histórica sobre o Município de Bethlem de Jundiahy” no Almanaque Literário Paulista de 1876. Neste artigo ele publicou, pela primeira vez, que Itatiba havia sido “descoberta” por alguns criminosos. Abaixo segue o texto original de 1876:
Há setenta anos, mais ou menos, que o território do município de Belém, coberto de matas virgens e sombrias florestas, era ainda desconhecido. Segundo antigas tradições, alguns criminosos foragidos de Santo Antônio da Cachoeira, onde eram perseguidos pela justiça, foram os primeiros que penetraram nessas matas, e estabeleceram a primeira arranchação…..
O texto (o único que tínhamos) foi reproduzido em jornais, livros, enciclopédias e nunca foi contestado. Para escrever esse histórico, Eugênio Joly se valeu de relatos orais que colheu em 1875, por isso ele diz que os acontecimentos ocorreram ‘há cerca de 70 anos mais ou menos’ ou seja, por volta de 1805. Claro que os relatos orais são importantes para a história, mas sempre devem ser cotejados com a documentação, o que Joly não teve a oportunidade de fazer.
Esse texto não era contestado, mas em busca de mais detalhes sobre esses acontecimentos, pesquisei durante mais de 5 anos em arquivos para encontrar as fontes oficiais (documentos) sobre esta versão.
Nada encontrei sobre os “criminosos” na documentação oficial de Atibaia, Jundiaí e Bragança, mas retrocedendo alguns anos na documentação do Arquivo do Estado de São Paulo, pude constatar que a história era diferente.
Alguns documentos que estão em Jundiaí já davam algumas ‘dicas’, especialmente que no início Itatiba era o “Bairro do Atibaia” pertencente a Jundiaí, isto é, antes de ser Freguesia e depois Vila.
Dentre outros, segue um exemplo deste fato comprovado através da Escritura de doação do Patrimônio para a Capela de N. Sra. do Belém (trecho resumido) que está arquivado no Cartório do 1º Tabelião de Notas de Jundiaí, Livro de Notas nº 24, Fls. 81 verso, e Registro de Títulos e Documentos de Itatiba, Microfilme nº 19239.
Assim, encontrei o recenseamento que prova a existência de 12 famílias pioneiras residindo em Itatiba no ano de 1786. Não eram criminosos, mas sim famílias humildes, sitiantes, que saíram de Atibaia, Bragança e Jundiaí em busca de melhores terras para o plantio.
É nesta parte que encontrei a divergência. Não seria nenhum problema caso eles fossem fugitivos, até porque o que era crime nos séculos XVIII e XIX, hoje podem não ser. Mas, de fato, eles não eram.
Como levar essa nova situação para que os moradores possam tomar conhecimento?
Vários textos a esse respeito já foram publicados com a nova versão, nos jornais da cidade, no site da prefeitura, e divulgado também no Museu Padre Lima, onde os professores da rede pública buscam informações. Aliás, a Secretaria da Educação de Itatiba já incluiu há anos a nova versão que é utilizada em sala de aula. Atualmente, preparo um livro sobre a história da cidade onde esse tema é abordado. O próprio jornal Itatiba Hoje também colabora com esta divulgação.
Qual a principal divergência?
A grande divergência é justamente a respeito dos ‘criminosos’ ou ‘fugitivos’. Na verdade, eram famílias pobres que, posteriormente, descobri que grande parte eram citados como ‘pardos’, a típica família humilde fruto da miscigenação ocorrida no interior de São Paulo entre os bandeirantes portugueses, indígenas e os escravizados africanos.
Mas criminosos não.
Fora essa questão, o restante do relato de Eugênio Joly eu confirmei que era procedente e confirmei com mais detalhes.
Da Redação – Foto: Divulgação