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Proibição de celulares nas escolas divide opiniões e gera debate em Itatiba

Escolas da cidade apoiam a nova medida e veem benefícios no aprendizado e na convivência entre os estudantes

A nova lei nacional que proíbe o uso de celulares nas escolas tem gerado discussões intensas entre alunos, professores e pais. Enquanto alguns estudantes consideram a medida exagerada e afirmam que o celular é uma ferramenta útil para pesquisas e comunicação, outros acreditam que a mudança pode melhorar a concentração e o rendimento escolar. O tema divide opiniões, mas especialistas defendem que a medida pode trazer impactos positivos no ambiente escolar.

Recentemente, o Brasil deu um importante passo na educação ao sancionar uma lei nacional que proíbe o uso de celulares em escolas públicas e particulares durante o horário de aula. A medida, que foi sancionada no final de 2024, começará a valer a partir de fevereiro de 2025, com o início do novo ano letivo. O objetivo é claro: criar um ambiente escolar mais propício ao aprendizado e à socialização, limitando as distrações tecnológicas que afetam o rendimento acadêmico de crianças e jovens.

Diversas pesquisas apontam que o uso excessivo de smartphones por crianças e adolescentes tem sido associado a uma série de problemas de saúde mental, como ansiedade, depressão e baixa autoestima. Estudos indicam que o tempo prolongado de tela pode prejudicar ainda a qualidade do sono, o desenvolvimento social e aumentar o risco de isolamento. Além disso, o acesso constante às redes sociais favorece comparações prejudiciais, amplificando sentimentos de inadequação e insatisfação pessoal.

Foto: Pexels/RDNE/6936147

O que diz a nova lei?

A legislação nacional segue os passos de uma medida estadual implantada em São Paulo, que já restringia o uso de celulares em salas de aula desde 2007. Agora, em âmbito federal, a lei estipula que aparelhos eletrônicos, como celulares, tablets e dispositivos similares, devem ser mantidos fora de uso durante as aulas, salvo em situações pedagógicas previamente autorizadas pelos professores. A intenção é assegurar que os estudantes estejam plenamente engajados no processo de ensino, sem as constantes interrupções causadas por mensagens, redes sociais ou jogos online.

Impacto na educação e exemplos internacionais

Essa medida não é exclusividade brasileira. Em diversos países, como França e China, legislações semelhantes já foram adotadas e trouxeram resultados positivos. Na França, por exemplo, o banimento de celulares em escolas foi implementado em 2018, levando a uma melhora significativa na concentração dos alunos e na qualidade da interação social dentro das instituições de ensino. Na China, a restrição visa também combater problemas como o excesso de tempo de tela e o impacto negativo na saúde mental dos estudantes.

Benefícios e desafios da nova lei

Especialistas apontam vários benefícios para a proibição do uso de celulares. Entre eles estão o aumento da concentração, a melhoria no desempenho acadêmico e a promoção de habilidades sociais por meio da interação direta entre os alunos. Por outro lado, alguns críticos destacam desafios como a necessidade de conscientização dos estudantes e de apoio dos pais para garantir o cumprimento da regra, além da questão de segurança, uma vez que muitos pais utilizam os celulares como forma de monitorar seus filhos.

Opinião dos especialistas

Para a psicóloga Luana Dantas, especialista em saúde mental infantojuvenil, a lei é uma medida educativa e não punitiva. “Quando o professor está dando aula e um estudante está mexendo no TikTok ou apostando no jogo do tigrinho, como já ouvimos em relatos, a função da escola é perdida. O espaço escolar procura educar, transmitir conhecimento, promover a sociabilidade, mas notamos que o uso de aparelhos individuais tira o foco, pode atrapalhar a tomada de decisão e a construção de uma responsabilidade em torno do próprio saber,” explica. Ela também reforça a importância dos limites: “Nós usamos a palavra proibição, mas é interessante perceber que estamos colocando um limite no uso, não é um castigo. Os limites ajudam a desenvolver ferramentas para lidar com a própria frustração.”

Adaptação das escolas de Itatiba

Em Itatiba, as escolas já começam a se adaptar à nova realidade. O Colégio Educar, que já implementa uma política de restrição ao uso de celulares, apoia a legislação nacional. “A ausência de celulares no ambiente escolar é essencial para que os alunos possam focar integralmente nas aulas e nas atividades propostas, aumentando sua produtividade e aprendizado,” afirma o diretor Marcos Alberto da Cruz. Ele explica que a escola utiliza o diálogo para conscientizar os alunos sobre o impacto positivo da medida.

Já no Colégio Anglo, a fundadora e diretora geral Rosana Valverde Molina considera a lei bem-vinda e destaca os desafios para os intervalos. “Já há alguns anos o celular está proibido em sala de aula, e temos bons resultados. Agora, nosso grande desafio será nos intervalos. Inicialmente, estamos propondo atividades, jogos e orientações para os alunos. Vamos aguardar os resultados,” comenta.

O que diz a Secretaria de Educação

A Secretaria Municipal de Educação de Itatiba informou que ainda não há uma regulamentação local sobre a lei que proíbe o uso de celulares nas escolas. A pasta aguarda as deliberações nacionais de aplicação da lei, e destaca que cada escola municipal tem a liberdade de fazer suas orientações: “De forma geral, o uso do aparelho particular não é recomendado.”

Fala, estudante

O estudante Miguel Clemente, 14 anos, diz que a nova lei não muda muita coisa. “A gente já não usava muito o celular na escola, só no intervalo e na saída. Acho que o celular não atrapalha em relação a socializar no intervalo. Mesmo com celular, a gente não deixa de conversar, jogar bola” afirma o jovem.

Para a estudante Fernanda Favari, 15 anos, o uso de celulares na escola pode ser uma ótima ideia, mas precisa ser feito de uma maneira responsável. “O uso dos smartphones tem várias vantagens, como ajudar na hora de pesquisar algo na aula ou usar aplicativos educativos que, muitas vezes, tornam as aulas mais interessantes. Fora que muitos alunos utilizam os celulares para comprar lanche e é muito mais fácil se comunicar com os responsáveis de uma forma mais rápida. Mas também existem alguns problemas”, destaca. “Em questão de socialização, a proibição não vai me atrapalhar, porém sei que existem alunos que não conseguem se relacionar e utilizam os celulares para passar o tempo nos intervalos e acho que isso irá trazer algumas dificuldades para eles.”

Por Camila de Magalhães/Itatiba Hoje – Foto: Pexels/RDNE/6936147